quarta-feira, 20 de julho de 2016

Viragem

Havia um rancor escondido
Rancor de um medo antigo
Medo de ser seguido
Perseguido
Ausente nas memórias
Sem histórias
Numa histeria negativa
Soletrada em fonemas avulso
Estratégias velhas
Cobertas de novidade e espanto
Num manto de desalento
Que tudo lança ao sabor do vento
Deitado mais que o que pode
Até os ossos se moldarem á cama
Saindo  nada acontece
Ficando só o torpor o amortece
Sonhos á deriva
Sonhos sem fim
Sem conseguirem viver
Só na pele a apodrecer
Nem sorri pelo sabor da culpa
Nem prossegue dado o isolamento
Esventrado no pulso de sangue rosado
E não sai a desventura do fado
Tempo onde não recorda
Ser quem é, é o acordo
Mas agora mudo, fechado
Mesmo de si próprio foge
Ignominias sem fim,
Lugares de cetim
Enjeitado de sorte obtusa
Tudo se esvai de um próprio fumo
Gostava de rir, de mentir, enfim
Resta sempre a esperança de morrer de novo
De esquecer o choro a lamúria e o fogo
Que o consome em crepitar sonoro
Que  o consome sem decoro
Mais infeliz que um mudo que cantava ao vento
Mais triste que um cego que viu um momento
Sem sentidos e infiel
Nem na pele que veste sente
Inflige dor em tudo o que faz
E no espaço obtuso é sem esperança
O mar
Banhar-se
Sonhar de novo
Ser de novo
Melhor de novo,
Uma e outra vez
Não sabe como fez
Mas perdeu  a vez
E no aguardar
Perde-a uma e outra vez.
Roída a corda cai em falso
Passadiço que transpõe
Inerte descola-o do chão
Pleno de ilusão sórdida
Oh ideias, clarabóias d’alma
No  cumprir, só sai ruína
Sina impante por ver cumprir
A dormir algo a  perseguir
E levantasse o corpo e seguisse em força,
Almejasse mais que uma tristeza
Corresse os alheios espaços
Fosse mais de si em todos seus passos
Triste ranger de vagão em obra
Que na ferrugem escura se aligeira em dobra
E por mais que tente sair da história
Algo arremessa inglória
E fosse tentar sair de campa fria
Como a sair de casa para uma luta insípida
Fosse buscar força ao rubro rubor do corpo
Fosse almejar um pouco mais
Mas nem isso, nem isso nem pouco mais
Só um atravessar lento do tempo em partes
Como um arremessar de um peso morto sem artes
Ser um fraco rastejante e não ciente espírito
Ludibriado inerte e incerto fugaz destino
Desenlaça de um sonho de um torpor de um hino
E nesse desatino ser menos que as partes
Relaxado em morte por não ter mais sorte
Agradar só ás luzes que o acompanham breves e fracas
Mais que um tempo antigo em fugaz destino quis tocar
Quis alcançar um píncaro dentro de seu ser
Mas não se soube encontrar
Perdido em sorte entregue a uma qualquer morte
Em pesar de pena antiga por cumprir
Parado num desafogo nato de não saber quem é
E parado num estar nefasto que o deixa em sono
E num pranto, que para meu espanto, não se quer parar
Seguir só para onde mais ninguém segue
Cumes só o de ciúmes
E azedumes, mais que perfumes
Triste sorte de ser em quase morte
Dormindo, em  pesar sorrindo
Fingindo estar acordado
Fosse tudo por  estar cansado
Fosse seu estado ser menos que continuar parado

Mas não se sente e basta!

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