Havia um rancor
escondido
Rancor de um medo
antigo
Medo de ser seguido
Perseguido
Ausente nas memórias
Sem histórias
Numa histeria
negativa
Soletrada em fonemas
avulso
Estratégias velhas
Cobertas de novidade
e espanto
Num manto de
desalento
Que tudo lança ao
sabor do vento
Deitado mais que o
que pode
Até os ossos se
moldarem á cama
Saindo nada acontece
Ficando só o torpor o
amortece
Sonhos á deriva
Sonhos sem fim
Sem conseguirem viver
Só na pele a
apodrecer
Nem sorri pelo sabor
da culpa
Nem prossegue dado o
isolamento
Esventrado no pulso
de sangue rosado
E não sai a
desventura do fado
Tempo onde não
recorda
Ser quem é, é o acordo
Mas agora mudo,
fechado
Mesmo de si próprio
foge
Ignominias sem fim,
Lugares de cetim
Enjeitado de sorte
obtusa
Tudo se esvai de um
próprio fumo
Gostava de rir, de
mentir, enfim
Resta sempre a
esperança de morrer de novo
De esquecer o choro a
lamúria e o fogo
Que o consome em
crepitar sonoro
Que o consome sem decoro
Mais infeliz que um
mudo que cantava ao vento
Mais triste que um
cego que viu um momento
Sem sentidos e infiel
Nem na pele que veste
sente
Inflige dor em tudo o
que faz
E no espaço obtuso é
sem esperança
O mar
Banhar-se
Sonhar de novo
Ser de novo
Melhor de novo,
Uma e outra vez
Não sabe como fez
Mas perdeu a vez
E no aguardar
Perde-a uma e outra
vez.
Roída a corda cai em
falso
Passadiço que transpõe
Inerte descola-o do
chão
Pleno de ilusão
sórdida
Oh ideias, clarabóias
d’alma
No cumprir, só sai ruína
Sina impante por ver
cumprir
A dormir algo a perseguir
E levantasse o corpo
e seguisse em força,
Almejasse mais que uma
tristeza
Corresse os alheios
espaços
Fosse mais de si em
todos seus passos
Triste ranger de
vagão em obra
Que na ferrugem
escura se aligeira em dobra
E por mais que tente
sair da história
Algo arremessa
inglória
E fosse tentar sair
de campa fria
Como a sair de casa
para uma luta insípida
Fosse buscar força ao
rubro rubor do corpo
Fosse almejar um
pouco mais
Mas nem isso, nem
isso nem pouco mais
Só um atravessar
lento do tempo em partes
Como um arremessar de
um peso morto sem artes
Ser um fraco rastejante
e não ciente espírito
Ludibriado inerte e
incerto fugaz destino
Desenlaça de um sonho
de um torpor de um hino
E nesse desatino ser
menos que as partes
Relaxado em morte por
não ter mais sorte
Agradar só ás luzes que
o acompanham breves e fracas
Mais que um tempo
antigo em fugaz destino quis tocar
Quis alcançar um
píncaro dentro de seu ser
Mas não se soube
encontrar
Perdido em sorte
entregue a uma qualquer morte
Em pesar de pena
antiga por cumprir
Parado num desafogo
nato de não saber quem é
E parado num estar
nefasto que o deixa em sono
E num pranto, que
para meu espanto, não se quer parar
Seguir só para onde
mais ninguém segue
Cumes só o de ciúmes
E azedumes, mais que
perfumes
Triste sorte de ser
em quase morte
Dormindo, em pesar sorrindo
Fingindo estar
acordado
Fosse tudo por estar cansado
Fosse seu estado ser
menos que continuar parado
Mas não se sente e
basta!
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