sexta-feira, 25 de abril de 2014

Por dentro do de dentro.

Se não estivesse o tempo tão carregado,
Se não fossem os dias tão enfadados,
Fossem mais magicas as histórias,
Mais frescas as memórias...

Ontem gostava de ter sido hoje
E hoje adoraria ser amanhã.
Mas pela fresca, bem cedo,
Com aquele ar de quem não tem medo!

Estive anos inanimado no meu corpo,
A lançar, só um peso morto,
Escondendo o torpe desalento
De quem dia-a-dia morre, lento

Olhar fundo, olhar para dentro,
Ir tão lá longe, mar adentro.
Ir tão fora, de mim fora,
Ficar lá, hora após hora!

Mas no meio, disto tudo,
No andar quieto, ficar mudo
Quedar mouco, tão calado
Ou ser por cousas, tresloucado!

Ser quem sou, tão simplesmente,
Que no errar da minha mente,
Ser-me á mesma, sana mente,

Igual aos outros, mas diferente.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

"Mulheres de Abril"



"Aqui na minha frente a folha branca do papel, à espera; dentro de mim esta angústia, à espera: e nada escrevo. A vida não é para se escrever. A vida — esta intimidade profunda, este ser sem remédio, esta noite de pesadelo que nem se chega a saber ao certo porque foi assim — é para se viver, não é para se fazer dela literatura."
Miguel Torga

Quando me fizeram a proposta para participar no projeto da HOP! “Mulheres de Abril”, pensei instantaneamente,  altamente, eu sou, filho de uma, neto de duas, bisneto de outras duas, sobrinho para cima de muitas e conhecido de outras tantas. Só isso era para aí... Um “maralhal”, um maralhal de mulheres que representam Abril, Um Abril, Uma Ideia, Um Cravo, Uma Era.
Assombra-nos ainda um passado, uma coisa meio estranha, o dito por dizer...
O Dito dessas mulheres de capitães, mães de mães e outras mães, essas mulheres que carregaram no corpo os corpos que por aí se lançaram em revoluções mil, antes e depois de Abril e que ainda se lançam, abismos dentro com a esperança de trazer mudança, de revigorar a esperança..
            O desafio era gigante, foi e é ainda, pois não é só o que fica nos ecrãs que é digno de ser narrado, é o que por trás se passa, o que nos bastidores se encontra, tantas histórias, de Abril, de Maio e de Janeiro, histórias para encher um ano inteiro, histórias do Passado, do Presente e do Futuro, que parece tão escuro, mas é mesmo só isso, aparência.
           Fascinou-me o poder mágico de viajar no tempo com a câmara de filmar, este dar e tirar vida, este respirar, expiar e inspirar, tanta, tanta gente.
            Estas mulheres, por exemplo, estas mulheres mudaram, ganharam vida, mais vida ainda, saem-nos da memória e renascem na tela de uma televisão, nas polegadas de um ecrã, ficcionadas, mas tão vivas, vivas pelo menos a partir de hoje, no nosso imaginário colectivo, esse sim, que se quer rico, pleno!
           Por mais que tente, não consigo traduzir o prazer que foi para mim participar neste projeto, tão cheio de “revisitações”, tão frescas, tão frescas que estavam nos mais velhos, como sedentas por serem revisitadas,  repensadas, pelos mais novos.
            Hoje, mais que nunca, é preciso pensar naquele Abril, aquela coisa gentil que é sair sem temor de um torpor de décadas, um torpor angustiante de hábitos, vícios e costumes e sair sem ira, sair como quem ia á praça ouvir a vida pelas bocas dos vivos, ouvir e ver o mundo com os olhos e ouvidos bem livres, sem censuras, sem perseguições e dissabores! E digo que é importante pensarmos em Abril hoje, porque é hoje que vivemos e amanhã será hoje também, se lhe dermos tempo
Um muito Obrigado a toda a Equipa, todos eles sabem quem são!


Ricardo Leite

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Ilha

Aqui,
Chove em Agosto
E troveja.
Aqui passa,
O tempo,
com vagar.

Sentado.
Ladeiam-me,
A par de pensamentos
E contratempos,
Amores,
Bons ventos
Coroas,
De flores.

Estivesse de pé,
Ou Encostado,
Mais deitado,
Esperguiçado,
Não conseguia esta visão,
A perspectiva.

Aqui, vento calcorreia,
Meu  rosto,
Aqui passeia.

Aqui, onde tudo passa...

sexta-feira, 11 de abril de 2014

A Filipa

O que te diria nos tempos idos?
O que te sopraria aos  ouvidos?
Que apontaria?
Inspiraria?

Olhar o vago mar de um ar ainda mais vago,
Colhendo do ser,  frutos, de não ver
 Não ser, como quem não sente 
Vivendo num sempre, será?
Como nunca foi!
Como já não há!

Amanhã, ainda pela fresca, quase certo,
Abrirei os olhos e erguerei o peso morto.
 Morto desse dia, que vou matar ou deixar morrer
O morto desse dia, que eu sou para não me esquecer
Esquecer nunca que todos os dias voltamos, de verdade,
A nascer!

E a haver vida frutuosa, apaixonante e bem viçosa, 
Nessa, descansado acordarei,
E se assim me bafejarem os ventos,
Se não me murcharem nunca os alentos, 
Juro, por ti juro, que não terei tormentos!

Só momentos e momentos em momentos! 





14 Setembro de 2012

Porto

Ida

Ida

Há  País
Neste País,
Mas,
Este País…
Este País?
Nunca foi País!
Nunca foi ninguém!
Nunca foi até…

Sempre sem rei nem Rock
Com tudo em rotura de Stock,
O País é uma invenção,
Um cancro inventado
Uma metástase,
A espalhar-se além fronteiras,
Indo por sob barreiras!

Dizendo em terras estrangeiras,
As boas e más maneiras,
Daqueles que em ruas se esgueiram
Da procura e do encontro,
Mas sobretudo da tristeza e do fado,
Que este é, o de sermos nós,
Os zeladores da entrada da Europa,
A entrada no mundo civilizado.
Somos nós, os alfandegários da face da Europa,
Por nós tudo entra, tudo sai, tudo passa e não paga imposto!

A não ser quem se esforça
A contragosto dia e noite
E até memso em Agosto!

Para oferecer todo o bom gosto
Inerente à maturação, tradição
Razão!
Razão que impele, norteia,
Nos lança além fronteiras,
Seja Procurar...
Seja encontrar...
Seja descobrir!

Amamos os que nos ficam lá longe,
Por força do trabalho ou da sorte,
Da necessidade ou desassossego,
Da morte, ou ausência de emprego.

Um recado:

Pior que uma nação,  
Totalmente em convulsão!
É o mal da própria razão

Nos manter em abstracção.