segunda-feira, 21 de abril de 2014

"Mulheres de Abril"



"Aqui na minha frente a folha branca do papel, à espera; dentro de mim esta angústia, à espera: e nada escrevo. A vida não é para se escrever. A vida — esta intimidade profunda, este ser sem remédio, esta noite de pesadelo que nem se chega a saber ao certo porque foi assim — é para se viver, não é para se fazer dela literatura."
Miguel Torga

Quando me fizeram a proposta para participar no projeto da HOP! “Mulheres de Abril”, pensei instantaneamente,  altamente, eu sou, filho de uma, neto de duas, bisneto de outras duas, sobrinho para cima de muitas e conhecido de outras tantas. Só isso era para aí... Um “maralhal”, um maralhal de mulheres que representam Abril, Um Abril, Uma Ideia, Um Cravo, Uma Era.
Assombra-nos ainda um passado, uma coisa meio estranha, o dito por dizer...
O Dito dessas mulheres de capitães, mães de mães e outras mães, essas mulheres que carregaram no corpo os corpos que por aí se lançaram em revoluções mil, antes e depois de Abril e que ainda se lançam, abismos dentro com a esperança de trazer mudança, de revigorar a esperança..
            O desafio era gigante, foi e é ainda, pois não é só o que fica nos ecrãs que é digno de ser narrado, é o que por trás se passa, o que nos bastidores se encontra, tantas histórias, de Abril, de Maio e de Janeiro, histórias para encher um ano inteiro, histórias do Passado, do Presente e do Futuro, que parece tão escuro, mas é mesmo só isso, aparência.
           Fascinou-me o poder mágico de viajar no tempo com a câmara de filmar, este dar e tirar vida, este respirar, expiar e inspirar, tanta, tanta gente.
            Estas mulheres, por exemplo, estas mulheres mudaram, ganharam vida, mais vida ainda, saem-nos da memória e renascem na tela de uma televisão, nas polegadas de um ecrã, ficcionadas, mas tão vivas, vivas pelo menos a partir de hoje, no nosso imaginário colectivo, esse sim, que se quer rico, pleno!
           Por mais que tente, não consigo traduzir o prazer que foi para mim participar neste projeto, tão cheio de “revisitações”, tão frescas, tão frescas que estavam nos mais velhos, como sedentas por serem revisitadas,  repensadas, pelos mais novos.
            Hoje, mais que nunca, é preciso pensar naquele Abril, aquela coisa gentil que é sair sem temor de um torpor de décadas, um torpor angustiante de hábitos, vícios e costumes e sair sem ira, sair como quem ia á praça ouvir a vida pelas bocas dos vivos, ouvir e ver o mundo com os olhos e ouvidos bem livres, sem censuras, sem perseguições e dissabores! E digo que é importante pensarmos em Abril hoje, porque é hoje que vivemos e amanhã será hoje também, se lhe dermos tempo
Um muito Obrigado a toda a Equipa, todos eles sabem quem são!


Ricardo Leite

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