quarta-feira, 20 de julho de 2016

Veneno

Dominar o ego em mil pontos
Em vão paisagem de sossego
Estar aqui e agora sem apego
Ir embora pelo corpo são.
Estar em paz mas em desterro
Estar pesado e em parte em medo
Ser prisão e desconforto
Esta coisa estranha em que repouso
Estar extasiado de ser sem porto
Com o sabor de vagar pela origem
Em passos só, mas com coragem.
Andar tão só dá-me tamanho alento
Só no tempo por contentamento
Apreciando o sol em tal viagem
Esqueço o que há em mim que quer voragem.
Fosse eu ver o mar que há em mim
Fosse ter um pranto por ter fim
Dedicasse ao espanto o ver em mim
O tempo todo que me trás do fim.
E de rompante erguer-me na miragem
E ser em passos só mais que cansaço
E estar e ser e ver com tal bravura
Que em pesar só vi a vil loucura
Fosse ser pouco mais que meu cansaço
E juro que no desvanecer do embaraço
Encontraria enfim num tal abraço
O consumir do trôpego espaço.
Fosse eu ver de mim o desapego
Certo é que descobria um tal sossego
Onde pudesse enfim acomodar
O pouco de mim que quer amar.
Pois é entre dias de embaraço
Que me circunscrevo num ínfimo espaço
Onde não movo nem um membro  
Por estar largado em lume brando  
Vivo em perigo de me ser sem dono
E em desatino fico em abandono.
Fosse o tempo ditar mais que dita
E encontrado em mim seria sem desdita
Seria um sol por fim num dia que grita
Por liberdade onde algo se agita
Mas degradado vou como por loucura
Onde o sol não brilha não trás a cura
Deixado só onde nada brilha
Nada explode e tudo se oculta

No sabor de um veneno que não é cicuta.

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